As aulas começaram de forma diferente para Isabela, de 5 anos. Apesar de já frequentar a escola há três anos, foi só nesta semana que a professora a chamou por seu nome feminino e ela pôde usar mochila cor-de-rosa e o banheiro das meninas. No ano passado, foi identificado que Isabela tem disforia de gênero, ou seja, apesar de ter nascido do sexo masculino, identifica-se como menina.
Ela é a criança mais jovem do País a ter direito a ser identificada por outro gênero, conseguido na escola onde estuda, em Salvador. A mãe, Patrícia, de 36 anos, contou que, desde que tinha um ano e meio, Isabela já demonstrava preferência por brinquedos e roupas de meninas. “Nessa época, não demos a menor importância, até por causa da pouca idade”, contou.
Mas foi a partir dos dois anos que Isabela começou a se mostrar incomodada em ser tratada como menino, não queria mais usar roupas masculinas e chegava até a chorar quando a chamavam por seu nome de batismo, disse Patrícia. “Me partia o coração ver sua angústia, querendo explorar o universo feminino e nós não deixávamos, não da forma que ela gostaria. Em casa, sempre usava roupas femininas, sapatos, mas se fosse sair, tinha de tirar tudo e eu via a tristeza nos olhinhos dela.”
Ajuda. Fundado em 2010 pelo psiquiatra Alexandre Saadeh, ainda hoje coordenador do espaço, o ambulatório foi o primeiro no País a receber crianças nessas condições. Além das 32 crianças, o ambulatório atende ainda 80 adolescentes. “Nos últimos anos não houve um aumento representativo nos casos de jovens com a disforia, mas é significativo. E vemos que a maioria dos pais, quando chegam até nós, está preocupada em entender e ajudar o filho a ser quem é”, disse Saadeh.
Nem todos que chegam ao ambulatório se tornarão transexuais. Em alguns casos, segundo o psiquiatra, pode ser apenas um comportamento lúdico convencional, como um menino que prefere brincar com outras garotas ou uma menina que quer brincar com carrinhos. Saadeh explicou que o objetivo do ambulatório não é oferecer tratamento, mas acompanhar o desenvolvimento da criança e orientar as famílias.









