Aspectos teológicos do Ano Santo 

Foto: divulgação/Canção Nova

Lino Rampazzo

Qual é a origem do termo “Jubileu”? Existem tempos favoráveis para a salvação? Quais são os elementos do Ano Santo?
A origem do Jubileu está ligada ao  Antigo Testamento. A lei de Moisés tinha fixado para o povo de Israel um ano especial, que era anunciado ao som da trombeta. A trombeta era um chifre de carneiro, que em hebraico se chama jobhel, daí a palavra Jubileu (Cf. Lv 25,1-13).

A celebração desse ano significava, entre outras coisas, a devolução das terras aos seus antigos proprietários, a remissão das dívidas, a libertação dos escravos e o repouso da terra. No Novo Testamento, Jesus se apresenta como Aquele que veio levar a termo o antigo Jubileu, pois, citando o profeta Isaías (61,1-2), ele chegou para “proclamar um ano de graça do Senhor” (Lc 4, 18-21).

O Jubileu é indicado com a expressão “Ano Santo” porque tem como finalidade fortalecer a fé em Cristo, e consequentemente, favorecer a solidariedade seja na Igreja, como na sociedade.

Este Ano Santo é um tempo favorável para a nossa conversão. De fato, Deus nos chama sempre para sermos salvos; mas há momentos nos quais Ele grita (Mt 16,2-3; 2 Cor 6,2; Lc 19,44). Significativa, a esse respeito, é a expressão de Jesus “a minha hora”, que encontramos no Evangelho de João (2,4; 7,30; 17,1). Essa hora de Jesus para a qual se dirige toda a sua vida e a sua missão é aquela da sua morte e ressurreição.

Para nós, esses “momentos” ou “tempos”, particularmente oportunos, podem ser subdivididos por ritmos diários (momentos de oração), semanais (o domingo), anuais (advento e quaresma); por ritmos comunitários litúrgicos ou não (encontros de espiritualidade). Há também os ritmos do Ano Santo ordinário (a cada 25 anos) ou extraordinário, como foi o Ano Santo da Misericórdia, em 2016.

E a eficácia do Ano Santo provém da oração da Igreja. Isso significa que a Igreja, esposa de Cristo, pede, com a certeza de que sua oração vai ser atendida, para que Ele derrame de maneira abundante seus dons para todos os cristãos.

Os elementos do Ano Santo são particularmente três: a conversão, a peregrinação e a indulgência. A conversão acontece através da reconciliação com Deus e com os irmãos. Observe que a reconciliação é uma iniciativa de Deus: Ele mesmo intervém e, estando em paz com Ele, nós nos tornamos criaturas novas, graças à morte de Cristo.

A peregrinação, por sua vez, faz reviver a experiência da história da salvação: a história de Abraão peregrino de Ur dos Caldeus para a terra que Deus lhe teria mostrado (Cf. Gn 12,1); a peregrinação de Israel rumo à Terra Prometida; a peregrinação de Jesus rumo a Jerusalém. E a vida cristã é uma peregrinação até Deus.

Quanto à indulgência, trata-se da promessa de uma particular intercessão da Igreja para que Deus perdoe a pena temporal dos pecados que já foram perdoados, mas cujas consequências continuam. Em outros termos, o pecador arrependido e perdoado inicia um processo de conversão, de mudança de vida radical, que exige tempo e perseverança. Nesse processo, a Igreja acompanha o fiel arrependido com sua oração de intercessão. Sobre isso temos a explicação do Catecismo da Igreja Católica (1471-1473. 1478).

Concluímos com as palavras do Papa Francisco: o “Jubileu há de ser um Ano Santo caracterizado pela esperança que não conhece ocaso, a esperança em Deus. Que nos ajude também a reencontrar a confiança necessária, tanto na Igreja como na sociedade, no relacionamento interpessoal, nas relações internacionais, na promoção da dignidade de cada pessoa e no respeito pela criação.”

Lino Rampazzo é Doutor em Teologia pela Pontificia Università Lateranense (Roma) e professor nos Cursos de Filosofia e Teologia da Faculdade Canção Nova, em Cachoeira Paulista (SP).