Comunitários da Resex Ituxi iniciam exploração madeireira sustentável

Após anos de luta os moradores da Reserva Extrativista (Resex) Ituxi, localizada em Lábrea, região Sul do Amazonas, iniciam no próximo dia 02 de setembro a exploração madeireira autorizada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) por meio de Plano de Manejo Florestal Sustentável (PMFS). O volume a ser explorado na primeira Unidade de Produção Anual (UPA), segundo a Autorização de Exploração (Autex), pode chegar a 440,26 m³ de madeira serrada.

​“Nosso povo vive da floresta. É de lá que tiramos nosso sustento. Lutar para usá-la e conservá-la foi uma escolha que fizemos lá atrás e que hoje dá resultados. Não poderíamos estar mais felizes”. A declaração expressa o entusiasmo do presidente da Associação dos Produtores Agroextrativistas da Assembleia de Deus do Rio Ituxi (Apadrit), Silvério Maciel, com o início das atividades de exploração madeireira sustentável.

O Instituto Floresta Tropical (IFT) apoia a iniciativa comunitária desde 2013 e realizará os treinamentos de manejo florestal, que inclui técnicas desenvolvidas pela instituição durante 20 anos de atuação na Amazônia. “É um momento ímpar para os manejadores, e para nós do IFT também. Foram três anos de preparação e agora vamos colocar em prática todo o trabalho que estamos construindo junto com os manejadores, ICMBio e APADRIT” comenta Ana Luiza V Espada, engenheira florestal e coordenadora do Programa de Manejo Florestal Comunitário e Familiar do IFT, responsável pela elaboração do PMFS.

O manejo florestal de produtos madeireiros é considerado pelos moradores da Reserva um importante item integrante da cesta de produtos florestais. A atividade econômica foi aprovada pelo Conselho Deliberativo da Unidade de Conservação (UC) e a escolha da localização da área foi consenso entre moradores. Contudo, nem todas as comunidades tem interesse no manejo madeireiro. “O grupo de manejadores pretende criar mecanismos sociais que beneficiem todas as comunidades e localidades da Resex, de forma a socializar os benefícios do manejo florestal para todos os moradores”, afirma Joedson Quintino, gestor da Resex Ituxi pelo ICMBio.

Instituída pelo governo federal no ano de 2008, a Resex Ituxi possui área aproximada de 780 mil hectares cobertos de florestas de terra firme e várzea. No último censo demográfico realizado pelo ICMBio, em 2012, foram registrados 564 habitantes divididos em 123 famílias e 19 assentamentos humanos, distribuídos entre comunidades e localidades. As principais atividades produtivas desenvolvidas pelos moradores da Resex Ituxi são: coleta da castanha-do-Brasil, produção de farinha de mandioca, extração do óleo-resina de copaíba, exploração madeireira e manejo do pirarucu.

Sustentabilidade

Em 2012, o IFT foi contratado pelo Banco Mundial durante a realização de projeto gerenciado pelo Centro Nacional de Apoio ao Manejo Florestal (Cenaflor) para conduzir capacitações preliminares, como o curso de Técnicas Pré-exploratórias do Manejo Florestal e para avaliar o potencial para o manejo florestal comunitário e familiar em quatro UCs federais da Amazônia, entre elas a Resex Ituxi. O relatório revelou um alto potencial para o desenvolvimento do manejo florestal nesta Resex.

Ainda em 2012, o IFT foi convidado pelo ICMBio e moradores da Resex Ituxi para elaborar, supervisionar e apoiar a implementação do PMFS a partir de discussões conduzidas em Lábrea durante a realização da reunião para operacionalização do manejo. A partir desta agenda, o IFT e a APADRIT firmaram, em 2013, o primeiro Acordo de Cooperação Técnica, formalizando as ações conjuntas na Resex Ituxi e o compromisso dos moradores e associação com as ações propostas pelo instituto.

A partir da assinatura do acordo, o IFT intensificou as atividades de apoio à implantação MFC em Ituxi. “Apresentamos projeto ao Fundo Vale, um dos nossos principais parceiros, e o escopo contempla as atividades que realizamos na Resex Ituxi. Por meio da parceria, conduzimos oficinas, seminários, reuniões, construímos o Marco Estratégico do Empreendimento Angelim – nome dado ao projeto de manejo florestal administrado pelos comunitários-, auxiliamos no pregão presencial para a venda da madeira e tantas outras atividades. Agora chegou a hora de tornar o sonho deles algo real”, comentou Ana Luiza V. Espada.

Exploração

O grupo de manejadores que vai realizar a exploração florestal é composto por 18 comunitários. A escolha foi feita durante encontros que estabeleceram as diretrizes para o manejo florestal. As atividades desenvolvidas em campo serão todas realizadas pelo grupo, com o apoio e acompanhamento dos técnicos do IFT.

Segundo Wallacy Barreto, engenheiro florestal do instituto, cada etapa da exploração será conduzida por subgrupos de manejadores. “Alguns vão trabalhar como motosserristas, outros como tratoristas, alguns na área do planejamento da atividade. Enfim, é um trabalho completamente conduzido por eles, o que torna a atividade ainda mais especial, já que ninguém conhece a floresta deles melhor do que eles. O IFT vai ajudar realizando treinamentos em campo de planejamento e arraste; técnicas de corte; e operações de pátio, além de instrução sobre o Documento de Operação Florestal e acompanhamento das atividades”, argumentou. A madeira tem destino certo, será vendida para o polo moveleiro local e para empresas localizadas em municípios vizinhos.