Sem uma expectativa de retomada da economia brasileira no horizonte, cada vez mais empresas estão reduzindo seus programas de investimento, na tentativa de se adequarem ao ambiente da crise atual, que muitos economistas classificam como a pior da história do País. Com os números já anunciados pelas companhias, os cortes previstos para 2016 atingem bilhões de reais, puxados especialmente pela Petrobras. E tal cenário acaba criando um ciclo vicioso, ao contribuir para uma queda ainda mais pronunciada do Produto Interno Bruto (PIB).
Somente para 2016, a Petrobras pretende investir US$ 20 bilhões, 25,9% menos que o sinalizado em junho do ano passado. A simples redução dos investimentos não bastará para solucionar os problemas de liquidez e a elevada alavancagem da estatal petroleira, que já avalia a venda de ativos para gerar caixa e honrar as dívidas com vencimento no curto prazo.
Muitas das empresas que estão reduzindo seus investimentos programam apenas o chamado “capex de manutenção”, valor mínimo para a continuidade da operação. É o caso da Usiminas, que, em meio à sua fragilidade financeira e com risco de ingressar com pedido de recuperação judicial, já avisou que seus aportes em 2016 serão apenas para manter a operação e deverão cair pela metade em relação a 2015.
Outras companhias, além desse montante mínimo para a operação, estão destinando parte dos recursos para projetos que não podem ser deixados de lado. É o caso do “S11D”, da mineradora Vale, investimento já na fase final e que garantirá mais competitividade à companhia no ciclo de baixa dos preços das commodities. Ainda assim, os investimentos da Vale deverão ficar em US$ 6,2 bilhões em 2016, quinto ano consecutivo de queda do orçamento de investimentos pela mineradora, após o pico de US$ 18 bilhões em 2011.
O sócio líder das áreas de auditoria e consultoria da Grant Thornton, Daniel Maranhão, afirma que esse represamento de investimento ocorre, principalmente, devido à falta de previsibilidade em relação ao contexto futuro, tanto político quanto econômico, do Brasil. “Enquanto não houver um cenário mais definido e claro, as empresas não vão fazer investimento em aumento de capacidade, por exemplo”, destaca. Segundo o especialista, o foco no momento tem sido primordialmente cortar custos e manter o caixa.
Maranhão atenta para o fato de que as companhias precisam acompanhar de perto os sinais políticos e econômicos que vão sendo passados, para que novas premissas possam ser incorporadas às projeções. Como muitos investimentos têm maturação de médio ou longo prazo, é importante para a perenidade da empresa uma antecipação à retomada.
O momento de contingenciamento não poupou nem mesmo a gigante de bebidas Ambev, que já anunciou que deve investir no Brasil neste ano uma quantia menor do que os aportes de R$ 3,1 bilhões feitos em 2015. A companhia deve sofrer este ano pressões de alta de custo nas operações brasileiras, embora considere a redução no volume de investimento como uma “variação normal”.









