Mesmo na enfermidade, a vida é permeada pelo amor de Deus

Foto: arquivo/Canção Nova

Edvânia Duarte Eleutério

A saúde, no seu significado mais completo, é a harmonia do ser humano consigo mesmo e com o mundo que o circunda. Sempre gosto de recordar essas palavras do Papa João Paulo II, para o Dia Mundial do Enfermo de 2004.

Sou casada, mãe de três filhos, missionária da Comunidade Canção Nova e, no auge da minha vida familiar e laborativa, fui acometida por um AVC (Acidente Vascular Cerebral), que me deixou com sequelas, todo o lado esquerdo paralisado e sérias repercussões em minha vida.

Talvez você, como eu à época do AVC, esteja gozando de plena saúde. Mas vale se questionar: você se percebe em harmonia consigo e com o que te cerca? Eu estava trabalhando muito, fazendo o que gostava, com saúde, muito dedicada aos filhos e ao esposo, uma vida realizada, mas faltava-me essa harmonia interior e com o derredor. E, pensando bem agora, essa desarmonia deve ter ido me adoecendo aos poucos sem que eu percebesse, até o pico da manifestação da doença. Faça o exercício de olhar para o seu interior para verificar como você está consigo mesmo e com os demais, parar um momento do dia para se ver e tomar atitudes harmonizantes pode ajudar você a manter sua saúde. Enfrentar a doença, para mim, não foi apenas ter que lidar com as dificuldades físicas que ela me ocasionou, mas fui desafiada por intensos questionamentos que me confrontavam com minha fé, ainda que tivesse dedicado os últimos 25 anos da minha vida antes do AVC a buscar a Deus e a sua vontade para mim. Depois dessa enfermidade ter revirado minha vida de ponta cabeça, passei um grande tempo me perguntando: “Por quê?” Por que Deus permitiu que isso acontecesse?

É uma hora dura, difícil conseguir compreender e admitir as escolhas erradas que fez, e assim, fica mais fácil achar um culpado. O que me ajudou muito nessa época foi contemplar Cristo Crucificado, o próprio Deus sujeitando-se a tamanho sofrimento por amor a cada um de nós, para nos salvar e nos dar a vida eterna. Tudo isso me fazia intuir que também o meu sofrimento podia ter um SENTIDO MAIOR. Mas, a pergunta certa a se fazer seria “para que?” Encontrar um sentido para o seu sofrimento e enfermidade é que poderá ajudar você a extrair da enfermidade um sentimento de alegria e realização inexprimíveis, que nos fazem repousar no colo amoroso de Deus Pai.

“A contradição que parece haver entre o sofrimento e a alegria é superada graças à ação consoladora do Espírito Santo”, disse o Papa João Paulo II em sua Carta Apostólica, Salvifici Dolores, sobre o sentido cristão do sofrimento humano. Ainda falando das perguntas “por quê?” e “para que?”, ele diz que são difíceis, pois podem ofuscar a presença de Deus.

O homem pode dirigir tal pergunta a Deus, com toda a comoção do seu coração e com a mente cheia de assombro e de inquietude; e Deus espera por essa pergunta e escuta-a, como vemos na Revelação do Antigo Testamento. A pergunta encontrou a sua expressão mais viva no Livro de Jó. “A penitência ou sofrimento tem como finalidade superar o mal… E consolidar o bem, tanto no mesmo homem, como nas relações com os outros e, sobretudo, com Deus.”

Hoje, posso afirmar que é justo isso que vejo se operando em mim através dessa enfermidade: harmonia interna e externa e o bem sendo consolidado. E vejo minha vida permeada pelo amor de Deus. “Cristo introduz-nos no mistério e ajuda-nos a descobrir o ‘porquê’ do sofrimento, na medida em que nós formos capazes de compreender a sublimidade do amor divino.”

Edvânia Duarte Eleutério – Missionária da Comunidade Canção Nova desde 1997, é formadora de namorados e casais, com especialização em gestão de pessoas, counseling e bioética.