Panama Papers: O que o escândalo pode mudar no sistema financeiro mundial

O vazamento de mais de 11 milhões de documentos da firma panamenha Mossack Fonseca retirou o manto de anonimato de atividades legais e ilegais de pessoas e empresas, que mantinham patrimônio e transações ocultas em empresas registradas em paraísos fiscais. Como a exposição de contas de chefes de Estado, grandes empresas, celebridades e organizações vai refletir no modo de o mercado financeiro se organizar? Estarão as empresas offshore com os dias contados?

A BBC Brasil conversou com especialistas que acreditam que os chamados Panama Papers deverão ajudar a controlar o fluxo de dinheiro obscuro e acelerar a implementação de novos instrumentos legais e tecnologias – que, da mesma forma, poderão ser utilizados tanto para o bem quanto para o mal.

É importante lembrar que contas offshore não são por si só ilegais, desde que devidamente declaradas ao Fisco: podem ser uma forma de investir-se em bens e ativos no exterior. Muitas vezes, porém, transações em paraísos fiscais são usadas para evadir impostos, lavar dinheiro ou ocultar o real dono da fortuna depositada.

“O caso (dos Panama Papers) vai ajudar a controlar o fluxo de dinheiro ilícito”, opina Mark Pieth, professor de criminologia da Universidade da Basileia e diretor do Basel Institute of Governance.

Pieth esteve no Panamá assessorando jornalistas que investigaram o caso. Ao todo, mais de 107 veículos de comunicação do mundo se mobilizaram para revisar os dados. Entre os profissionais auxiliados por Pieth estava o núcleo investigativo que estabeleceu a conexão entre o líder russo Vladimir Putin e o seu amigo músico Sergei Roldugin, suspeito de servir como laranja para o político – algo que o governo russo nega.

“Por muito tempo aceitamos a existências desses centros offshore. Todos criticavam, mas quando chegava a hora de fazer algo a respeito todo mundo tinha o seu próprio pequeno paraíso. Veja a França com Mônaco, a Suíça com Liechtenstein, a Grã-Bretanha como as Ilhas do Canal; a Holanda com Aruba e os Estados Unidos com Delaware”, constatou Pieth.

“Ao ver quem tem essas contas, você entende por que os políticos não estiveram seriamente interessados em combater (os paraísos fiscais). O caso do premiê britânico, por exemplo, cuja a família tem contas lá, é muito interessante”, disse em referência a Ian Cameron, pai de David Cameron. O fundo de investimentos de Ian estava registrado em um paraíso fiscal, o que permitia que não pagasse impostos no Reino Unido.