
Enquanto moradores de Iranduba convivem com estradas intrafegáveis, avanço do desmatamento e um lixão a céu aberto ativo há mais de três décadas, o prefeito do município, Augusto Ferraz (União Brasil), de 63 anos, tem uma fortuna de mais de R$ 8,3 milhões [R$ 8.373.883,65]. Isso somente até o ano passado. Dos 62 chefes do Poder Executivo municipal do Amazonas, eleitos e reeleitos em 2024, Ferraz é o mais rico do Estado, conforme os bens declarados ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pelos candidatos vencedores do último pleito.
Em 2020, ao se eleger para o primeiro mandato como prefeito de Iranduba, Augusto Ferraz informou à Justiça Eleitoral um patrimônio de R$ 6.825.794,59. Nos primeiros quatro anos à frente da administração municipal, garantiu um acréscimo de mais de R$ 1,5 milhão [R$ 1.548.089,06] aos seus bens pessoais. Um enriquecimento de 22,68% antes do segundo mandato.
A riqueza do prefeito de Iranduba o coloca à frente até mesmo de gestores de cidades com maior arrecadação e peso econômico no Amazonas. O patrimônio de Ferraz é mais de seis vezes superior ao do prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), oitavo colocado no ranking do levantamento. Responsável pela gestão da capital, que concentra a maior parcela do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado, Almeida, reeleito também no ano passado, divulgou possuir na época R$ 1.277.906,77 em bens.
De acordo com a plataforma DivulgaCand, do TSE, a maior parte da fortuna de Augusto Ferraz está concentrada em fundos de previdência privada, que somam mais de R$ 3,5 milhões [R$ 3.542.826,17], e imóveis avaliados em mais de R$ 3,3 milhões [R$ 3.383.289,21] espalhados por Manaus e municípios do interior. O prefeito também declarou R$ 550 mil em dinheiro em espécie, empréstimo [R$ 301.605,79], aplicações financeiras e participação societária única em uma empresa privada e majoritária [99%] em outra firma. As duas companhias juntas têm R$ 349.000,00 em capital social.
Entre os bens de alto padrão está um apartamento de luxo no Avant Tower, localizado na Avenida Mário Ypiranga, no bairro Adrianópolis, área nobre da zona Centro-Sul de Manaus, avaliado em mais de R$ 1,2 milhão [R$ 1.227.807,17]. Em contrapartida, Ferraz financiou um apartamento, pela Caixa Econômica, no bairro Tarumã, no valor de R$ 63.482,04.
Augusto Ferraz também possui casas, prédios residenciais e comerciais no Centro da capital, em bairros periféricos como Jorge Teixeira e Novo Israel, além de imóveis em Rio Preto da Eva e um terreno localizado na Estrada do Janauari. Esta última é uma área diretamente afetada por problemas ambientais no município que administra.
O único veículo declarado ao TSE foi uma camioneta Toyota Hilux, ano 2021, avaliada em R$ 246.060,00.
Reeleito para governar Iranduba até 2028, Augusto Ferraz carrega um histórico de polêmicas na vida pública e já enfrentou uma cassação após denúncias de abuso de poder econômico e político nas Eleições de 2020. Conforme moradores, à medida que a fortuna pessoal do prefeito cresce, o município caminha para uma crise social e ambiental sem precedentes.
Colapso iminente
Em contraste com a prosperidade pessoal do gestor municipal, Iranduba enfrenta um cenário descrito por moradores como de abandono e colapso ambiental iminente. A Estrada do Janauari, que conecta comunidades rurais, agricultores e escolas, encontra-se esburacada, sem pavimentação adequada e sem coleta regular de lixo. Próximo dali, o lixão a céu aberto do Km 6 segue ativo há mais de 30 anos, despejando fumaça tóxica, mau cheiro e contaminando o solo e a água da região.
O comerciante Valdo Guimarães, que vive a cerca de 400 metros do lixão, relata prejuízos constantes. “Quando o vento bate na direção do lixão, o mau cheiro entra todo no meu comércio. Minha água do poço não presta há meses”, afirmou.
Segundo Guimarães, o Ramal do Creuza, outra via essencial para a economia local, teve sua situação agravada por uma obra pública inacabada. “Minhas vendas caíram 50%. Mexeram na estrada toda e não concluíram nada. Nem asfalto, nem uma raspagem para tirar a lama”, relatou.
Moradores afirmam que esse é um padrão da atual gestão. Estimam que entre 80% e 90% das obras públicas anunciadas pela prefeitura estejam inacabadas ou abandonadas.
Aterro sanitário
O debate sobre a instalação de um aterro sanitário divide a população, mas lideranças comunitárias apontam que a condução do tema pela prefeitura é política, não técnica. Para André Peres, presidente da Associação Rural da Comunidade São Francisco, o posicionamento do prefeito muda conforme o calendário eleitoral.
“Antes ele defendia o aterro. Agora é contra. Depois da eleição deve voltar a defender. É tudo político”, afirmou.
Enquanto isso, o lixão existente, considerado ilegal e altamente poluente, segue em operação sem solução definitiva, mesmo diante de denúncias sobre interesses privados na venda de projetos de aterro à prefeitura.
Desmatamento avança
Além da crise do lixo, Iranduba enfrenta um avanço acelerado do desmatamento. Loteamentos, muitos considerados irregulares por lideranças locais, estão sendo abertos em áreas de mata e próximos a igarapés, ampliando o risco de contaminação ambiental.
“Em todos os ramais, os loteamentos irregulares estão desmatando e poluindo os igarapés. Daqui a menos de dez anos, Iranduba não terá mais mata”, alertou Benedito Leite, líder comunitário do Novo Paraíso, no Km 6.
Ainda segundo Leite, que também é presidente da Associação dos Moradores e Agricultores Rurais da Comunidade São José II, no Km 5, centenas ou milhares de novos moradores devem chegar à região sem que exista qualquer plano básico de gestão de resíduos sólidos. “Ninguém pensa no futuro”, criticou.
RANKING DOS PREFEITOS DO AMAZONAS POR VALOR DE BENS DECLARADOS
- 1 – Augusto Ferraz (União Brasil), de Iranduba: R$ 8.373.883,65
- 2 – Dr. Lázaro (Republicanos), de Fonte Boa: R$ 7.777.657,21
- 3 – Toco Santana (Republicanos), de Borba: R$ 6.878.731,04
- 4 – Bosco Falabella (União Brasil), de Urucará: R$ 6.256.700,88
- 5 – Cecéu (MDB), de Santo Antônio do Içá: R$ 2.425.593,11
- 6 – Mateus Assayag (PSD), de Parintins: R$ 1.493.208,93
- 7 – Nazaré Rocha (MDB), de Amaturá: R$ 1.328.000,00
- 8 – David Almeida (Avante), de Manaus: R$ 1.277.906,77
- 9 – Gibe Martins (União Brasil), de São Paulo de Olivença: R$ 1.200.000,00
- 10 – Darlan Taveira (União Brasil), de Barreirinha: R$ 1.196.000,00
- 11 – Sales de Oliveira (Republicanos), de Tonantins: R$ 1.130.000,00
- 12 – Tonho (União Brasil), de Codajás: R$ 1.100.000,00
- 13 – Pedro Guedes (PSD), do Careiro da Várzea: R$ 1.057.428,48
- 14 – Dedei Lobo (União Brasil), de Humaitá: R$ 1.004.794,16
- 15 – Adaildo Melo (União Brasil), de Guajará: R$ 862.889,38
- 16 – Lúcio Flávio (PSD), de Manicoré: R$ 854.179,55
- 17 – Frank Barros (MDB), de Boca do Acre: R$ 845.297,54
- 18 – Emerson Mello (Podemos), de Beruri: R$ 830.000,00
- 19 – Renato Afonso (PSD), de Pauini: R$ 750.000,00
- 20 – Zé Roberto (União Brasil), de Canutama: R$ 682.000,00
- 21 – Marina Pandolfo (União Brasil), de Nhamundá: R$ 655.001,00
- 22 – Gamaliel Andrade (União Brasil), de Tapauá: R$ 588.000,00
- 23 – Airton Siqueira (MDB), de Carauari: R$ 581.181,84
- 24 – Paula Augusta (PSDB), de Ipixuna: R$ 580.000,00
- 25 – Otávio Farias (União Brasil), de Novo Airão: R$ 580.000,00
- 26 – Lucenildo Macedo (União Brasil), de Alvarães: R$ 562.000,00
- 27 – Jander Barreto (União Brasil), de São Sebastião do Uatumã: R$ 510.000,00
- 28 – Thomé Neto (PP), de Autazes: R$ 500.000,00
- 29 – Katia Dantas (MDB), de Anamã: R$ 490.706,00
- 30 – João Campelo (MDB), de Itamarati: R$ 480.000,00
- 31 – Professora Áurea (MDB), de Eirunepé: R$ 476.569,56
- 32 – Régis Nazaré (Republicanos), de Anori: R$ 430.000,00
- 33 – Ivon Rates (PSD), de Envira: R$ 421.000,00
- 34 – Ilque Cunha (MDB), de Juruá: R$ 359.000,00
- 35 – Gerlando Lopes (PL), de Lábrea: R$ 345.084,00
- 36 – Matulinho Braz (União Brasil), de Caapiranga: R$ 330.000,00
- 37 – Mara Alves (Republicanos), do Careiro: R$ 330.000,00
- 38 – Pastor Edir (União Brasil), de Maraã: R$ 310.000,00
- 39 – Professor Vanilso (União Brasil), de Japurá: R$ 309.000,00
- 40 – Marquinhos Macil (MDB), de Apuí: R$ 300.000,00
- 41 – Semeide Bermeguy (MDB), de Benjamin Constant: R$ 300.000,00
- 42 – Raiz Sobrinho (União Brasil), de Novo Aripuanã: R$ 300.000,00
- 43 – Professora Socorro Nogueira (União Brasil), de Rio Preto da Eva: R$ 300.000,00
- 44 – Leôncio Tundis (PT), de Urucurituba: R$ 255.000,00
- 45 – Professor Paulino Grana (Republicanos), de Silves: R$ 250.000,00
- 46 – Mário Abrahim (Republicanos), de Itacoatiara: R$ 230.000,00
- 47 – Fernando Vieira (PL), de Presidente Figueiredo: R$ 200.000,00
- 48 – Nelson Nilo (MDB), de Manaquiri: R$ 193.000,00
- 49 – Denis Paiva (União Brasil) , de Atalaia do Norte: R$ 150.000,00
- 50 – Nicson Marreira (União Brasil), de Tefé: R$ 118.000,00
- 51 – Professora Araci (MDB), de Nova Olinda do Norte: R$ 113.000,00
- 52 – Valcileia Maciel (MDB), de Manacapuru: R$ 88.893,29
- 53 – Radinho Alves (União Brasil), de Barcelos: R$ 60.000,00
- 54 – Thiago Lima (MDB), de Itapiranga: R$ 58.846,00
- 55 – Plinio Cruz (Republicanos), de Tabatinga: R$ 40.000,00
- 56 – Jarlem CB (PSD), de Boa Vista do Ramos: R$ 32.000,00
- 57 – Mercedes Vargas (União Brasil), de Jutaí: R$ 1.000,00
- 58 – Adail Pinheiro (Republicanos), de Coari: sem bens a declarar
- 59 – Macelly Veras (PDT), de Maués: sem bens a declarar
- 60 – José Beleza (União Brasil), de Santa Isabel do Rio Negro: sem bens a declarar
- 61 – Egmar Curubinha (PT), de São Gabriel da Cachoeira: sem bens a declarar
- 62 – Marcos Martins (União Brasil), de Uarini: sem bens a declarar
Fonte: TSE, pelo DivulgaCand das Eleições Municipais 2024









