Recuo do dólar deve ter fôlego curto no país

A antecipação de uma eventual ruptura política capaz de derrubar o governo de Dilma Rousseff esteve por trás do movimento de queda do dólar observado na semana passada. Os especialistas avaliam que o recuo não tem fôlego para continuar no mesmo ritmo, mas também não esperam uma volta do dólar aos patamares mais altos. E começam a discutir os impactos de uma taxa de câmbio ligeiramente mais valorizada.

Uma das expectativas é de que o Banco Central atue para evitar perdas acentuadas da moeda norte-americana, o que seria possível com o desmonte do programa de swaps cambiais, por meio do qual tem se mantido a liquidez em moeda estrangeira no mercado. Isso preservaria o setor de comércio exterior, que tem mantido a melhor performance em meio à crise econômica. A cotação oficial da moeda norte-americana recuou 5,82% na última semana, passando de R$ 4 no dia 26 de fevereiro para R$ 3,77 na última sexta-feira.

“Como o BC pode deixar ocorrer essa volatilidade, quando taxa de juros em dólar é baixíssima, quase zero? Um exportador que não travou a taxa de câmbio nesses dois dias está frito”, afirmou o especialista em câmbio e sócio da Tendências Consultoria, Nathan Blanche.

Já o diretor de Pesquisa Econômica da GO Associados, Fábio Silveira, acredita que o dólar não vai voltar para R$ 3,50 e argumenta: “O Banco Central até deixa o câmbio flutuar, mas tem limite, pois o único setor que está minimamente bem é o externo”, disse. “O governo não vai comprar briga com o talvez último torcedor da arquibancada. Além disso, é só esperar a próxima reduzida de rating brasileiro para ver aonde o dólar vai parar”, completou.

O entrave para a atuação do Banco Central, no entanto, pode ser o alívio que a queda da moeda norte-americana pode trazer à inflação. O economista da Bozano Investimentos, Samuel Kinoshita, explica que, se mantida, a recente queda da moeda norte-americana em reação ao noticiário político reduz as expectativas inflacionárias e pode viabilizar um corte nos juros pelo Banco Central. Enquanto isso, os indicadores de confiança de empresas e famílias melhorariam e os investimentos poderiam voltar a crescer relativamente rápido.