O Papa irá a Milão, no norte da Itália, no próximo sábado (25). O maior destaque de sua viagem será a visita ao presídio de San Vittore que, inaugurado em 1879, sofre atualmente do mesmo drama das prisões brasileiras: superpopulação. Francisco irá se encontrar com os 400 presos, almoçará com eles e pretender dormir um pouco depois do almoço (a sesta) na cela do capelão do cárcere. Toda a visita acontecerá sob o tema do perdão.
O gesto do Papa no próximo sábado é de alto impacto. Ele irá, mais uma vez, ao encontro daquilo que boa parte da humanidade considera escória. Como diz o lugar comum da classe média conservadora brasileira, “bandido bom é bandido morto”. É a estes que o Papa dedicará sua atenção e afeto, em apoio à atividade anônima e cotidiana da Pastoral Carcerária do Brasil e suas similares no mundo.
“Se o Senhor me perdoou tanto, quem sou eu para não perdoar?”, perguntou o Papa, em sua homilia na missa matinal desta terça (21) na capela de Santa Marta, no Vaticano. O perdão é um tema central do papado de Francisco e se dirige ao ser humano em todas as condições em que se encontra: no cárcere, nas famílias desfeitas, às múltiplas condições de marginalização pela sociedade. É um tema que antagoniza o Papa a amplos segmentos conservadores do catolicismo em particular e do cristianismo como um todo, cujo foco de atenção é na condenação, e não no perdão.
Este foi tema de um instigante artigo do teólogo italiano Andrea Grillo sobre o pontificado de Francisco, publicado poucos dias atrás: “A Igreja redescobre que pode realmente perdoar e caminhar. Esse caminho e esse perdão, finalmente reconhecidos como possíveis, são, para poucos, um erro imperdoável; para muitos, a consolação preciosa que abre uma nova temporada.”
É este Papa, tão estranho ao mundo enclausurado da Cúria romana, que recoloca a Igreja no caminho do encontro com a pessoa tal como ela é. O teólogo Grillo captou a percepção da hierarquia católica sobre um Papa que lhe é de fato tão estranho; ela entendeu desde o primeiro instante: “o Papa não mora mais aqui. Permanece periférico, mesmo estando no centro. Trabalha com a Cúria, mas não faz parte dela. Permanece extraterritorial, incontrolável, indomável. Presta serviço, mas permanece livre”.
Livre, ele vai ao encontro dos que estão aprisionados: “Estive preso e vieste me visitar” –a prescrição de Jesus no capítulo 25 do Evangelho de Mateus é uma das escolhas decisivas dos que pretendiam e pretendem segui-lo. Com os encarcerados, Francisco irá conversar, “um a um”, segundo o porta-voz vaticano David Milani, comer, visitar suas celas e partilhar humanidade”.
[Mauro Lopes, com Religion Digital e IHU Unisinos]