Dia do Arquiteto e Urbanista: entre legado, resistência e a força transformadora da profissão

Foto: divulgação

Celebrado nacionalmente em 15 de dezembro, o Dia do Arquiteto e Urbanista marca, há 13 anos, mais do que uma data no calendário: é um convite à reflexão sobre a profissão que molda espaços, humaniza cidades e transforma vidas. A escolha do dia não é aleatória. Ele homenageia o falecimento de Oscar Niemeyer, um dos maiores nomes da arquitetura mundial, cuja obra permanece como referência incontestável.

“A data carrega um símbolo de um legado que influenciou gerações. O Niemeyer influenciou e ainda influencia, assim como Lúcio Costa, emblematicamente com Brasília”, destaca a arquiteta e urbanista Melissa Toledo, que exerce a profissão há 25 anos.

Antes celebrado em 11 de dezembro, o reconhecimento da nova data também representa a oportunidade de revisitar a própria trajetória da arquitetura e do urbanismo no Brasil. E revisitar essa história, afirma Melissa, é compreender a força transformadora da profissão.

No dia a dia, arquitetos e urbanistas estão por trás de projetos que estruturam a vida coletiva: casas, praças, edifícios, planos urbanísticos, normativas e políticas públicas. Ainda assim, muitas vezes permanecem invisíveis na linha de frente do reconhecimento público.

“Nós trabalhamos muito, e muitas vezes permanecemos invisíveis. Porque tudo que fazemos, o espaço, a casa, a cidade ,não é para nós, e sim para a sociedade”, reflete Melissa. “Quantas vezes, no segmento privado, o cliente se torna a estrela da obra? Quantas vezes o mérito é direcionado ao gestor público presente no corte da fita? E, no entanto, por trás de cada edificação, de cada praça, há sempre a presença silenciosa e fundamental de um profissional de arquitetura e urbanismo.”

Melissa também chama atenção para a presença crescente das mulheres no campo da arquitetura e urbanismo, que vêm assumindo espaços e lideranças, ainda que de forma tímida. Mas, ao mesmo tempo em que celebra esse avanço, ela revela um sentimento de pesar, marcado pela realidade de violência contra as mulheres no país.

“Eu não consigo celebrar o dia do arquiteto e urbanista sem um tom de tristeza pelo que acontece no nosso estado, no Brasil e no mundo. Para mim, como mulher, arquiteta e urbanista, é doloroso conviver com o feminicídio”, diz. “Não basta apenas projetar cidades melhores se nelas ainda não conseguimos garantir a segurança e a vida das mulheres.”

A arquiteta propõe que a data seja também um momento de compromisso coletivo.
“Que o dia do arquiteto e urbanista seja um dia de reconhecimento, de reflexão e de compromisso por cidades mais justas, por vidas mais protegidas, por um futuro no qual nenhuma mulher seja silenciada e no qual a nossa profissão continue sendo instrumento de transformação, sensibilidade e humanidade.”

Para Toledo, celebrar o 15 de dezembro é reconhecer não apenas a história da arquitetura no Brasil, mas também o cotidiano de profissionais que, silenciosamente, dedicam-se a pensar e construir espaços melhores.

“Eu falo como mulher, arquiteta e urbanista que exerce a prática profissional no Amazonas”, afirma. “É um dia de significado profundo, que nos leva a refletir sobre tudo o que já vivemos e sobre a cidade que queremos construir.”

No Dia do Arquiteto e Urbanista, a mensagem dela ecoa além da técnica: é sobre lugar, pertencimento, memória, segurança e humanidade. É sobre lembrar que, antes de erguer cidades, é preciso garantir que elas acolham e protejam as pessoas que nelas vivem.