Artesã Val França está entre os formandos em ensino médio da EJA SESI

Produto Val Franca Eco Joias da Amazônia

Cento e setenta e três alunos vão concluir o ensino médio pela Educação de Jovens e Adultos do Serviço Social da Indústria (EJA/SESI) na próxima quinta-feira, 28. A solenidade de formatura vai ocorrer no auditório Arivaldo Silveira Fontes, do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI Amazonas), localizado na Avenida Rodrigo Otávio, 2394, Distrito Industrial.

Entre os formandos está a indígena da etnia Kokama, Valdenira da Costa França, a Val França, que no próximo dia 22 completa 60 anos. A aluna retornou às aulas, estimulada pela necessidade de ajudar o filho Cleberson França, de 31 anos, também aluno do ensino médio EJA/SESI, sobretudo no período em que o filho passou a estudar 100% em casa e on-line, por conta da pandemia em 2020. Cleberson, que nasceu com síndrome de down, precisou contar com a atenção especial da mãe, apoio fundamental para o aluno que se formou em dezembro de 2021.

De acordo com a Val, foi desafiador ajudar o filho a realizar as atividades escolares durante as aulas on-line, não pelo uso das plataformas digitais ou dificuldades com a internet, mas pelos conteúdos de história, geografia e, principalmente, língua portuguesa.

“A língua portuguesa é uma língua fascinante, principalmente, quando ela é muito bem falada e, hoje, eu vejo, analisando algumas coisas, que é muito mais fácil a gente aprender a falar uma palavra errada, do que a linguagem certa”, frisa.

Val explica que foi desafiante correr atrás de novos conhecimentos, pois, de acordo com ela, o ensino hoje é totalmente diferente de 40 atrás. Ao rever sua trajetória nos estudos, revela que o mais incrível foi haver estudado no tempo da cartilha do ABC e, após todo esse tempo, ter a chance de cursar o novo ensino médio. “Olha só que maravilha, o que aconteceu na minha vida, né?”, disse.

Emocionada, também afirmou que não foi tão fácil voltar a estudar, ao lidar com os preconceitos de muitos, por sua idade “avançada” para adquirir conhecimento. “Escutei muito: papagaio velho não aprende a falar, até que meu filho mais velho, veio e me falou: não só aprende a falar, como também ensina, e isso me motivou a estar onde estou hoje”, expressou.

Conhecimento para aprimorar o talento

A nova formanda da EJA do SESI Amazonas anunciou que não vai parar de estudar. “Estou ansiosa pelos preparativos (da formatura). Cumpri a etapa do ensino médio, agora estou vendo uma faculdade, pretendo fazer uma de Design de Moda, se Deus quiser”, expôs Val.

Val Franca é empreendedora e pretende continuar se aperfeiçoando em sua profissão com o curso de Design de Moda

A futura universitária vai optar por Design de Moda, porque é dedicada ao artesanato e proprietária do ateliê “Val França Eco Joias da Amazônia”, nome definitivo, após muitos nomes fantasias, desde 2014. As joias são sustentáveis e têm uma identidade visual que retrata o grafismo indígena, a fauna e flora da floresta Amazônica, de onde vem toda a inspiração para suas peças que podem ser conferidas em instagram.com/valfrancaecojoias. De acordo com a Val, suas joias já estão em várias cidades brasileiras, assim como no exterior, em países como a Espanha.

“Deixarei de ir a um evento nacional, pois optei pela minha formatura, um momento único na nossa vida e que não vale a pena deixar para depois. Eu acho importante voltar a estudar, ter conhecimento é uma coisa maravilhosa, algo que ninguém tira da gente. Estou muito feliz pela oportunidade que o SESI me deu”, frisou Val.

A artesã destaca que se matriculou no SESI assim que soube das vagas abertas para a comunidade, pela coordenadora e pedagoga Iara Nazaré. Val estudou 80% de forma on-line e 20% de forma presencial, fase em que apresentou projetos pedagógicos e estratégicos, completando mais esta etapa.

A artesã nasceu em uma comunidade no Paraná do Urariá, canal que liga os rios Madeira e Amazonas. Veio para Manaus aos 14 anos de idade, onde disse ter enfrentado muitas dificuldades, em razão dos costumes e tradições oriundos de sua etnia, para assimilar novos costumes.