
O Brasil é um dos países pioneiros a proibir o fumo em locais fechados e, também, em implantar políticas públicas para o combate ao tabagismo. Mesmo com muitos avanços nessa área, o país voltou a registrar aumento no número de tabagistas.
Dados do Ministério da Saúde mostram que, em 2024, o aumento foi de 25% no número de fumantes adultos, comparado a 2023. A pesquisa, divulgada esse ano, chama a atenção, pois é a primeira vez, desde 2007, que o Brasil apresentou um aumento tão significativo no número de fumantes.
O tabagismo pode acarretar uma série de danos à saúde, mas quando se trata do coração, o prejuízo pode ser maior, como alerta o médico cardiologista Anfremon D’Amazonas, professor da Afya Educação Médica, de Manaus.
“O cigarro é o fator de risco modificável mais agressivo para o coração por acelerar processos que levam a infarto, Acidente Vascular Cerebral (AVC) e outras doenças graves”, afirma.
De acordo com o cardiologista, as mais de 4.700 substâncias tóxicas presentes no cigarro provocam inflamação e dano direto às paredes internas das artérias. “Essas agressões tornam a superfície dos vasos mais áspera, o que facilita o acúmulo de placas de gordura e acelera a aterosclerose”, explica.
Além disso, segundo Anfremon D’Amazonas, a nicotina aumenta a pressão arterial e a frequência cardíaca, enquanto o monóxido de carbono reduz a quantidade de oxigênio disponível no sangue. “É um cenário que sobrecarrega o coração e favorece a formação de coágulos, criando condições ideais para eventos como o infarto”, comenta o cardiologista.
O médico destaca que os efeitos do tabagismo vão além dos pulmões e têm impacto direto em diversos sistemas do corpo. Entre as doenças cardiovasculares relacionadas ao uso do cigarro estão o infarto agudo do miocárdio, o AVC, a doença arterial periférica, o aneurisma da aorta e a hipertensão.
“O cigarro é um inimigo do coração. Ele contribui para entupimentos em artérias do coração, do cérebro e das pernas, podendo levar a quadros graves como derrame, amputações e hemorragias internas”, completa o cardiologista da Afya.
Anfremon D’Amazonas explica que outro ponto de atenção é a ação combinada do tabagismo com outros fatores de risco, como má alimentação, obesidade, sedentarismo e pressão alta. O cigarro potencializa todos esses problemas. “O tabagismo não apenas se soma aos outros riscos, como os multiplica. Para quem já tem colesterol elevado ou pressão alta, por exemplo, fumar aumenta exponencialmente a chance de infarto ou AVC”, reforça o cardiologista.
A boa notícia, segundo o médico, é que os benefícios de abandonar o cigarro começam rapidamente. Em apenas 20 minutos, pressão arterial e batimentos cardíacos começam a retornar ao normal. Em 12 horas, os níveis de monóxido de carbono no sangue caem e após um ano sem fumar, o risco de infarto reduz pela metade.
“Entre cinco e quinze anos depois, o risco de AVC se iguala ao de alguém que nunca fumou. E após 15 anos, o risco de infarto se aproxima do de um não fumante”, detalha.
Para quem deseja parar de fumar, o professor da Afya recomenda buscar acompanhamento médico. Tratamentos com medicamentos, adesivos ou gomas de nicotina podem ajudar no processo. Ele também orienta que o paciente identifique os gatilhos, adote novas rotinas e busque apoio de familiares e amigos.
“Parar de fumar é uma das decisões mais importantes para a saúde cardiovascular. Com orientação adequada, é possível superar a dependência e reduzir significativamente o risco de doenças cardíacas”, frisa o cardiologista.









