Em Manaus, time de vôlei homenageia vítimas de homotransfobia

Mais de 22,3 mil crimes contra a população LGBTQIA+ foram registrados no Estado, entre março de 2020 e o mesmo mês deste ano, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM). O trágico cenário de homotransfobia comoveu o time de vôlei Casa Miga, que resolveu trocar os próprios nomes nos uniformes pelos de vítimas de preconceito, como uma forma de dar visibilidade ao problema.

A equipe é uma das 16 que participam da 9º Copa Solidária Pedro Pantoja, um evento de voleibol realizado anualmente em Manaus para arrecadar alimentos não perecíveis para instituições de apoio a pessoas em vulnerabilidade social, tanto na capital como em alguns municípios do interior.

No evento esportivo, a equipe Casa Miga representa a entidade homônima (@casamigalgbt no Instagram), de apoio a pessoas LGBTQIA+ carentes, inclusive refugiadas de outros países. “É a primeira casa deste tipo na região Norte e tem sede em Manaus”, explica Rayfran de Oliveira, um dos atletas do time e supervisor comercial da rede de farmácias Santo Remédio, que patrocina os uniformes da equipe.

Durante todos os jogos, a Copa irá receber doações dos membros das equipes participantes e da população que for prestigiar o evento. Ao final, os mantimentos arrecadados serão entregues aos três times que vencerem em primeiro, segundo e terceiro lugar. Até o momento, o torneio já arrecadou cerca de 700 quilos de alimentos, mas o número deverá ser ainda maior até o encerramento, em dezembro.

O objetivo do time Casa Miga é vencer e entregar os mantimentos à instituição de mesmo nome. A presidente do abrigo, Karen Arruda, diz ter ficado muito feliz com a parceria. “Recebemos essa iniciativa com muita alegria e esperamos arrecadar uma quantia expressiva não só para os assistidos pela Casa Miga, mas também para outras pessoas que a instituição apoia”, comenta.

O uniforme

A equipe do time Casa Miga é formada por sete membros, sendo seis homens e uma mulher. Os uniformes doados pela Santo Remédio são de cores branca e azul, e trazem os nomes de pessoas LGBTQIA+ assassinadas ou que sofreram preconceito por motivos homotransfóbicos no Brasil e no mundo.

“É a primeira vez que a empresa patrocina um time na Copa e esse apoio foi essencial para que nós conseguíssemos cumprir nosso objetivo de representar a Casa Miga e toda a comunidade LGBTQIA+”, afirma Rayfran.

Conforme o departamento de marketing do Grupo Tapajós, detentor da rede de drogarias, a iniciativa se encaixa perfeitamente nos valores da empresa, cujo slogan é “gente cuidando de gente”. Isso ultrapassa as fronteiras da saúde, indo além do bem-estar físico e envolvendo também o lado social e emocional do ser humano.

Copa Solidária Pedro Pantoja

A 9ª Copa Solidária Pedro Pantoja iniciou em outubro e seguirá até dezembro, com jogos sempre aos domingos de manhã (8h45) e à tarde (14h). O campeonato ocorre na quadra da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), na avenida Mário Ypiranga, em frente ao Park Mirage. A entrada é solidária, sendo pedida a doação de um quilo de alimento não perecível.

O torneio teve a primeira edição em 2012 e um dos participantes, Pedro Pantoja, deu a ideia de arrecadar doações. Ele faleceu em 2014, vítima de câncer, mas os amigos continuaram o projeto em sua homenagem.