Planejamento urbano e enchentes: um desafio contínuo para as cidades brasileiras

Pontos vermelhos indicam áreas de risco de desbarrancamento. (Reprodução: Defesa Civil)

O último domingo foi marcado por uma tragédia em Manaus. Uma família ficou soterrada após um deslizamento de terra no bairro Redenção, na zona oeste da capital amazonense. De acordo com o Corpo de Bombeiros, duas casas foram atingidas pelo desmoronamento de um barranco causado pelas fortes chuvas. Esse acidente evidencia, mais uma vez, a vulnerabilidade urbana diante de eventos climáticos extremos.

Infelizmente, a situação em Manaus não é isolada. Várias cidades brasileiras enfrentaram alagamentos, perdas financeiras e, tragicamente, vidas foram ceifadas pelas enchentes. Esses eventos, embora intensificados por chuvas volumosas, são, em grande parte, consequência da interação entre as modificações humanas no ambiente urbano e os elementos naturais.

As enchentes refletem problemas de planejamento urbano e de ocupação do solo. O crescimento desordenado das cidades, a ocupação de áreas de várzea e a impermeabilização do solo aumentam significativamente a pressão sobre os sistemas de drenagem urbana, que muitas vezes não conseguem suportar chuvas intensas ou frequentes. Além disso, o descarte irregular de lixo agrava a obstrução desses sistemas, potencializando o impacto das chuvas.

“A urbanização sem planejamento adequado tem causado danos irreparáveis. Embora avanços tecnológicos e o desenvolvimento urbano tenham trazido benefícios à sociedade, a falta de infraestrutura adequada e a gestão ineficiente dos recursos naturais tornam nossas cidades mais vulneráveis”, explica Melissa Toledo, arquiteta e urbanista, sócia da Amazônia Arquitetura e Urbanismo, professora, Conselheira Estadual e Vice-presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Amazonas – CAU AM.

Soluções de Curto e Longo Prazo

Melissa Toledo sugere que as soluções para as enchentes devem ser abordadas em duas frentes: ações imediatas e planejamentos de longo prazo.

No curto prazo, ela destaca a necessidade de:

– Manutenção e limpeza dos sistemas de drenagem;

– Gestão eficiente de resíduos sólidos;

– Implementação de reservatórios de água em empreendimentos e áreas públicas.

– Para soluções a longo prazo, é essencial:

– Promover a desocupação de áreas de risco, como regiões de várzea ou encostas;

– Investir em regularização fundiária e habitação adequada;

– Integrar soluções de infraestrutura verde e serviços ecossistêmicos às políticas urbanas, como pavimentação permeável, telhados verdes e jardins de chuva.

“Não existe uma solução única ou imediata. Cada cidade possui particularidades regionais que exigem ações personalizadas. Contudo, todas as intervenções devem ser guiadas por um planejamento urbano sustentável e por uma sociedade mais consciente e participativa”, ressalta a arquiteta.

Para Melissa, a educação ambiental urbana é fundamental. “Precisamos sensibilizar a população sobre o impacto de suas escolhas cotidianas, desde o descarte correto do lixo até o respeito às áreas de preservação. A participação cidadã nas políticas urbanas é essencial para construir cidades mais resilientes”.

A tragédia em Manaus é um alerta para a necessidade urgente de um olhar mais atento e comprometido com o planejamento urbano. A gestão integrada e multidisciplinar, aliada a soluções inovadoras, pode mitigar os impactos das enchentes e garantir uma convivência mais harmoniosa entre o ser humano e a natureza.