Bandeira do Brasil sem “ordem e progresso” no Senado

O bocal do aspirador de pó risca o carpete azul por onde pisam, ou deveriam pisar, 81 pares de sapatos lustrosos de segunda à sexta-feira. No Senado Federal, onde os servidores efetivos não ganham menos que R$ 4,8 mil, é um funcionário terceirizado, da área de limpeza, que desenha – há 17 anos, de graça – a bandeira do Brasil que já virou emblema do plenário. Mas além do tom monocromático que difere totalmente do colorido original, o símbolo nacional delineado por Clodoaldo Silva, de 45 anos, não tem ordem, muito menos progresso.

“Só volto a escrever isso quando o Brasil merecer”, diz.

O lema da bandeira brasileira até constava nas primeiras obras de Silva, filho de piauienses, nascido em Brasília. Desenhou a bandeira pela primeira vez em 8 de abril de 1998, a mais inesquecível das quartas-feiras: a Copa do Mundo se avizinhava, o clima ufanista reinava e seu filho Marcos Vinícius nascia. Tudo parecia em plena ordem e progresso. “Hoje, infelizmente, já não é mais assim”, lamenta ele, que aboliu as inscrições positivistas quando o caso do mensalão começou a ser revelado, dez anos atrás.