Um robô contra o autismo

Kaspar tem o tamanho de uma criança de quatro anos e responde a estímulos táteis. Quando o toque é apropriado, reage com animação e empatia. Se passa do limite, afasta-se e se recolhe. Esta é uma das habilidades do robô criado na Universidade de Hertfordshire, na Inglaterra, para ajudar no tratamento de meninos e meninas autistas. Nos Estados Unidos, no último episódio da temporada de Vila Sesamo, exibido há duas semanas, Garibaldo e sua turma foram apresentados à Júlia, portadora da síndrome. No clima descontraído do programa, os velhos personagens aprendem a conhecer a nova amiga e a fazer dela mais uma parte da divertida gangue.

A chegada de Kaspar e de Julia ao tratamento do autismo faz parte do esforço para preparar cada vez mais as crianças para dividirem os ambientes familiares, sociais e profissionais com todos os que não apresentam a condição.

A inclusão estimula melhoras e contribui para reduzir o estigma, mas não é algo simples. O Transtorno do Espectro Autista é composto por diversos distúrbios de desenvolvimento, caracterizado por uma ampla variedade de sintomas e de intensidade desses sinais. Alguns dos mais marcantes são justamente a pouca ou nenhuma habilidade de reconhecer as respostas alheias a gestos ou expressões faciais e de interagir com as pessoas. Limitações assim podem prejudicar seriamente a capacidade da pessoa autista de manter vínculos emocionais e sociais.

Nos testes feitos até hoje na Universidade de Hertfordshire com quase duas centenas de crianças, o robô Kaspar mostrou que cumpre bem seu papel de treinar a criança para interagir em situações cotidianas. “Brincar de alimentá-lo ajudou uma delas a relaxar e fazer pela primeira vez uma refeição junto com os amigos da escola”, contou à ISTOÉ Ben Robins, um dos criadores do robô. “Outra aprendeu a comunicar melhor os sentimentos após explorar as funções ´triste´e ´feliz´de Kaspar.”

Vila sésamo
Os cientistas tomaram cuidados especiais na confecção do robô. O objetivo era deixar claro para as crianças que se tratava de um brinquedo, e não de uma pessoa. Por isso, tem formas muito parecidas com as humanas – nariz, olhos, boca – , mas também óbvios componentes não-humanos. Entre eles, peças visíveis de metal e sons audíveis de motores. “Acreditávamos que isso facilitaria o contato físico das crianças como ele, especialmente o toque e o olhar direto”, explicou Robins.

O robô começará a ser testado no Instituto Nacional de Pesquisa em Saúde, órgão do governo inglês que tem por objetivo estudar tecnologias com potencial para serem incorporadas na rede de atendimento. Serão dois anos acompanhando cerca de 250 crianças entre 5 e 10 anos. No Brasil, ainda não há nada parecido. A informação sobre o recurso, no entanto, entusiasma quem lida no dia a dia com as dificuldades de inclusão enfrentadas por autistas. “Ajuda as crianças e também pais e professores”, afirma Ana Maria Mello, superintendente da Associação Brasileira de Autismo.

Júlia, a boneca de Vila Sésamo, apresenta reações muito típicas. Demora a responder quando chamada pelos amigos, não se engaja de primeira na brincadeira do esconde-esconde e tem uma crise quando escuta o som alto de uma sirene. Os amigos estranham, mas entendem que Júlia é assim. E aos poucos encontram uma forma de integrar a nova companheira ao grupo.

O NÓ DO DIAGNÓSTICO
Um dos principais obstáculos ao tratamento é a identificação do transtorno, de sintomas amplos e de intensidade muito variável. Alguns dos principais:

  1. Comportamentos repetitivos
  2. Concentrar atenção em movimentos como mover objetos ou parte deles
  3. Ter interesse em assuntos específicos (números ou fatos históricos, por exemplo)
  4. Reagir negativamente à mudança de rotina
  5. Não responder ou demorar a reagir quando chamado
  6. Repetir palavras ou sons
  7. Apresentar dificuldade para entender a reação das outras pessoas

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Novo teste
Um exame criado no Instituto Politécnico Rensselaer (EUA) mostrou 98% de eficácia na determinação do risco de desenvolvimento do transtorno

Como funciona
Analisa a concentração no sangue de 24 substâncias associadas ao transtorno
Foi checado em 83 crianças entre 3 e 10 anos com autismo e 76 não portadoras
O método detectou corretamente 98% das autistas e 96% das que não manifestavam a síndrome